colunista do impresso

Golpe baixo

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Na coluna "Fala leitor" (Diário, 7/01/2020), temos um bom exemplo da intolerância que grassa no país. Um leitor, militar aposentado, concordou que "a grande verdade é que Dilma sofreu o impeachment não pelas pedaladas fiscais..." e passa a derramar seu ódio sobre Dilma, não sem antes chamar o articulista de "petista", o que, para ele, parece ser uma grande ofensa. Não entendi a razão de sua agressividade, se era exatamente isso que o artigo "Tudo que é sólido desmancha no ar" (Diário 1º/01/2020) pretendeu provar. Aliás, a frase que dá título ao artigo é do "Manifesto Comunista" (1848), de Marx e Engels. Se ele soubesse disso, certamente teria me chamado de "comunista" ao invés de "petista", que seria para ele, suponho, uma ofensa mais grave.

Dar rótulos aos outros é fácil, difícil é se enquadrar neles. Ainda bem que vivemos num país livre e cada um tem o direito de se manifestar. Mas existem regras mínimas de civilidade. É preciso evitar os golpes baixos para não perder a razão. Na vida, como no boxe, é desclassificado aquele que "bater abaixo da linha da cintura".

Normalmente, não respondo as críticas dos leitores. Leio apenas. Às vezes, como é o caso, me divirto com elas de tão primário que é o raciocínio. O fato é que não escrevo para provocar ninguém. Respeito a ideologia de cada um, mas me reservo o direito de discordar delas. Procuro não me afastar do campo das ideias, mas, às vezes, é necessário citar pessoas públicas.

Puxo pela memória para exemplificar a minha imparcialidade partidária. Tempos atrás, quando se discutia a liberação dos transgênicos, escrevi um artigo em que criticava um deputado petista por ter mudado de posição (o PT, na época, era contra). Isso ocorreu pós uma viagem com um grupo de deputados para visitar plantações no Exterior. Brinquei que ele voltou "geneticamente modificado" do estrangeiro. Ele não gostou e pediu dois direitos de resposta ao Diário. Águas passadas. Nunca poupei ninguém, seja FHC, Lula, Dilma e agora Bolsonaro. Quem é vidraça, sempre corre o risco de levar pedrada.

Escrevo de maneira compulsiva, quase como necessidade. É uma forma de compartilhar minhas angústias. Recentemente, atualizando o meu currículo no CNPq, contei 259 artigos e crônicas publicadas só no Diário. Isso que fiquei cinco anos sem coluna fixa. Fora o que escrevi para outros jornais, alguns que até não existem mais. Como é de praxe, não recebo para isso. Escrever para jornal é se sentir mais próximo da comunidade.

No ano que passou, escrevi mais sobre política do que sobre economia. A razão é simples: qualquer saída da crise econômica, passa antes pela política. Não necessariamente pela política convencional, que caiu em descrédito, mas pelo estímulo da população à participação política - que é essência da democracia.

Já virou chavão falar que o país está dividido entre extrema-direita e extrema-esquerda. Nada mais falso. O país está dividido, desde sempre, entre poucos ricos e muitos pobres. Com pouca cultura e fraca educação, os pobres são presa fácil da manipulação política dos ricos. E isso muitos analistas políticos não percebem, criando uma falsa divisão ideológica com a velocidade de um relâmpago. Desde quando surgiu essa inusitada consciência política de extremos entre nós?

O fato é que a maioria dos eleitores não tem a consciência política que os analistas políticos imaginam. A massa do eleitorado migra de direção a uma simples mudança do vento. Vive sempre à procura de um "salvador da pátria". Foi assim com Collor, repete-se o fenômeno com Bolsonaro. Collor catalisou a insatisfação com a inflação e Bolsonaro (e seu fiel escudeiro Moro) surge, tal como um Don Quixote dos trópicos, com a promessa de acabar com a criminalidade.

Luta contra moinhos de vento e logo seus eleitores se darão conta disso. O que nos falta, infelizmente, é formação política.

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Missão Anterior

Missão

Réquiem para Eloá Próximo

Réquiem para Eloá

Colunistas do Impresso